Arquivo do mês: agosto 2012

Desfile de máscaras

Tanto analfabetismo! Tanta engabelação! Patifes, patetas, covardes. Não falo de um analfabetismo iletrado, mal falado pela população. Falo de um analfabetismo social. Humano. Política desses tempos… tanta covardia mostrada, tanta coragem escondida. Nossa coragem. Coragem deles existe. E basta. Rostos, frases, falas.

Nossa covardia. Realidade social estampada; a ideologia pintada em cartazes. Placas, fotos, dizeres. Um mundo novo; um mundo melhor. Quais melhorias? Benefício próprio, regalias.

Patifes, patetas, covardes. Cadê a coragem? Nossa coragem se esconde em panos, em carros, em ônibus, em bancos, em escolas, em casas, empregos, desempregos, em véus. O véu que faz a máscara do povo. Véu construído pelo que move essa máquina – analfabetismo, engabelação.

Uni-vos! Nós, o povo. Movemos a máquina. Fazemos dessa máquina tanta sujeira latente. Há que se fazer manifesta, mais manifesta! Manifesta + ação. Manifestação. Com vozes, palavras, sons, sonhos. Um sonho. Uma voz que se escuta. Grita, ecoa, ressoa.

Tanta engabelação. Tanto analfabetismo. Tanto, tanto; que patifes, patetas, covardes poderiam ser pejorativos. Não são. Covardia deles crer que o povo ainda aceita tanta falação. Patifaria na nossa frente, motivação. Uni-vos!

 

Galopem, amigos, galopem!

 

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O paradoxo da escrita

Escrever é

libertar

e prender

os pensamentos.

 

Galopem, amigos, galopem!

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Um dia qualquer

Hoje era um dia normal. Tão normal quanto qualquer outro. O vento soprava, as folhas caíam, os pássaros cantavam, o cachorro latia. E eles brincavam. Brincavam sobre um gramado verde e cheio de flores. Corriam e jogavam bola. Concentrados no que faziam, os sorrisos que levavam no rosto eram uma demonstração fiel de que estavam aproveitando cada momento naquele quintal. A brisa balançava os cabelos dela e enchia de ar a camiseta dele. Eles riam. Riam sem algum motivo específico. Batiam as mãos, pulavam, corriam: revelavam uma intensa alegria matinal. Sob a sombra de uma frondosa árvore, o cachorro permanecia deitado, mas atento. Ao sinal de uma possível ameaça (alguém iria pegá-lo no colo, de novo?), soltava um latido forte. Continuava ali, descansando. Piscava os olhos várias vezes quando sentia o vento soprar. À sua frente, eles continuavam brincando.

De mansinho, uma borboleta pousou sobre a flor vermelha que pendia do galho de um pé de hibisco. Ali ficou por alguns instantes. Enquanto isso, uma nuvem resolveu esconder o sol. Tão logo a borboleta saiu dali, o sol voltou a aparecer. Parecia que estavam em sincronia. Ela voa, ele brilha. Sem demora, o grande e perfumado hibisco tornou-se fonte de alimento para um cintilante beija-flor que passava por cima daquele canteiro de flores. Rosas, bromélias, margaridas – tudo faziam parte de um colorido jardim. Era apenas uma parte do quintal. Mais atrás, eles continuavam sorrindo, ouvindo as folhas em farfalhos, girando-se em torno de si mesmos. Sorrateiramente, um gato surgiu em cima do muro e fez com que o cachorro se levantasse. Começou a latir. O gato parou e encarou o animal em uma expressão que denotava desprezo pelo bicho, apesar de ser maior que ele. O cachorro pulava em direção ao gato, mas jamais conseguiria alcançá-lo. O muro era alto demais para ele. Latindo agora desesperadamente, o cachorro acabou espantando o gato. Algumas nuvens começaram a se aproximar do sol. Mais uma vez, a natureza parecia dançar uma música sincronizada, cheia de aromas, sensações, ares e vidas que se fazem juntos. O gato pulou, o sol sumiu. Agora de verdade. Um vento cada vez mais forte passou a balançar os pesados galhos das árvores e fazer voar milhares de folhas, pétalas, plumas, penas. Os pássaros piaram e foram voando rapidamente para seus ninhos. Um deles chegou a derrubar uma minhoca que levaria para sua prole. O vento uivava e o cachorro abanava o rabo em um misto de medo com incompreensão. Grandes gotas de chuva começaram a cair.

Eles continuavam ali, apreciando aquilo tudo. Ele ria mais alto sob as geladas gotas; ela aproveitava aquele vendaval para sentir os cabelos emaranhando-se e cobrindo-lhe a face. Debaixo deles, de qualquer forma, um sorriso continuava estampado em seu rosto. Hoje era um dia normal. Tão normal quanto qualquer outro. O vento soprava. As folhas caíam. Os pássaros cantavam. O cachorro latia. Ao contrário de sempre, entretanto, eles brincavam. Brincavam sobre um gramado verde e cheio de flores. Depois de tanto tempo, eles brincavam de ser crianças. Depois de tanto tempo, eles brincavam de viver.

Galopem, amigos, galopem!

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Batman, orquídeas e São Francisco de Assis

Hoje eu assisti Batman e comprovei que não se deveria discutir gosto. Mais do que falar somente em política e religião, a gente deve saber que nada referente a opiniões se discute… mas já que se fala em opiniões e cada um tem liberdade de expressar as suas, pra mim vale muito mais um bom romance pra ser lido que um filme como esse pra ser visto em cinema.

Ação, repetição, barulho, voz de monstro, exageros. A mocinha salvadora da pátria. Batman ressurge de onde for e nasce aquela última e tão pitoresca esperança de filme. No meio de tudo, há tempo ainda para um beijo! Não cinematográfico, mas o beijo acontece.

Esse tipo de beijo não me apetece. Muito mais um belo romance à moda antiga. Lucinda Riley, fico com tua escrita. ‘A Casa das Orquídeas’ faz muito mais meu tipo. Amor, paixão – e portanto dor e sofrimento – música, aromas de flor, relacionamento… um passado pra poder vir à tona, uma casa encantada com seus grandes aposentos, seus segredos, as famílias… toda a escrita me faz vivenciar aquele mundo como se fosse real. Nada tão ficcional.

No lugar das trevas do Batman, prefiro as flores da Casa das Orquídeas. Em vez de uma mulher-gato, uma ilustre pianista. No lugar de uma criança nascida na maldade, uma que é bela, desenrola no livro toda a verdade.

Que essas comparações talvez não caibam serem feitas, até porque gosto realmente não se discute… mas já que cá estão, que eu leve a luz e as cores no lugar dessas trevas. Fico com elas!

 

Galopem, amigos, galopem!

 

 

 

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Morfologia das notas

A música não é só matemática, como dizem. Tem sim suas divisões aritméticas e lógicas, como acontece nas notas do piano. Todavia, a música também é Português. Português acima de tudo. Não falo de outras línguas porque não tenho conhecimento de todas – e seria prepotência falar das outras assim. Mas é linguagem absoluta, logicamente. E lógica, absolutamente. Mas o mais legal foi descobrir que também é Português – e eu amo o Português! As notas, as notas tão belas; cada uma com seu nome, codinome, significado, explicação. Uma partitura pode ser uma análise morfológica de notas. Uma análise sintática. Sem esse contexto, parece que o tocar seria diferente. Não é um dó, um ré, um mi que vou tocar. Quando sinto o dedo nas teclas do piano sei que estou tocando a mínima, semínima, colcheia: até o silêncio tem nome! A pausa é escrita. A pausa é o não-tocar, o que silencia a música, mas dá o tom. O silêncio é importante. Tanto quanto uma colcheia, uma breve, semi-breve. Dizem que o silêncio vale mais que mil palavras. Mas a maioria perde a chance de ficar calado. No piano ele é respeitado. A palavra silêncio tem nome (a pausa), e tem o mesmo valor que qualquer outra palavra do dicionário. Na vida real ninguém pensa assim!

 

As teclas sabem das coisas… e depois, mesmo que eu não aprenda tanta melodia, já estou aprendendo com elas. A hora de fazer uma pausa. A hora de fazer silêncio. Ser breve. Ser semi-breve. Semi-breve, aí está a precisão! Não adianta eu descarregar a fala toda de uma vez e jogar o assunto, mas também não vou fazer delongas na história… Ser mínima, nada de exageros. Da colcheia ainda vou descobrir!  A clave de sol, o sol, tão brilhante e alegre. Uma análise morfológica completa, cada nome de nota com seu significado.

 

A música, acima de tudo, é mais do que a matemática e consegue ser ainda mais do que o Português. A música é ensinamento puro.

  

Galopem, amigos, galopem!

 

 

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