Brasil – o país do circo, da esperança e da aceitação

Esse é o nosso problema. Não são os jogadores, queridos. Não é o técnico. Somos nós. O que acabamos de ver no jogo nada mais é do que o retrato dos brasileiros. Desde sempre nosso problema é ter esperança, e ter tanta esperança nem sempre é bom. Porque temos esperança, muita esperança, sem nada fazer.

Primeiro que, pra esse jogo, a única esperança do time e de todos os brasileiros era o Neymar. Tudo foi depositado em um único jogador, mesmo tendo outros 11 pra entrar em campo. Os jogadores também acreditaram nisso e já entraram pra jogar desacreditados neles mesmos. Tudo ficou mais claro – e até escancarado – depois do primeiro gol tomado. O jogo não parecia uma partida de Copa do Mundo. E era uma semi-final de Copa do Mundo! Mas é o que fazemos com o país como um todo – tudo está ruim, tem muita coisa pra mudar, pobreza, desigualdade, falcatrua, corrupção… mas não fazemos nada por isso. Depositamos nossa esperança em um terceiro. Deixa que o próximo governante resolva (e ele não vai fazer nada de diferente, porque não sabemos escolher); deixa uma entidade resolver ou entrega nas mãos de Deus… e nós? Temos esperança de que vai ser diferente! Agora pode ficar mais fácil justificar o placar, sem Neymar tudo se justifica porque foi depositada muita (se não toda) esperança nele. Força, Neymar!

Desde o início da Copa o time do Brasil não parecia tão bem… mas não se pode falar nisso que és considerado um pessimista nato. (e diga-se de passagem que, agora, diferentemente, devem pulular textos julgando o time, a técnica, criticando as falhas… e todos viramos crentes e craques no futebol – ‘eu sabia que isso ia acontecer!’ ‘Tinha que ter mudado! ‘Como insistiu nisso?’) Mas o foco aqui é outro. A questão é que, mesmo com falhas e por vezes reconhecendo os erros, passamos a mão na cabeça. De um jogador que sonhou em jogar na Copa e, coitado, vou passar a mão na cabeça dele e mantê-lo aí. De um pai que, vendo o filho chorar sem motivo ou mesmo estando errado, passa a mão na sua cabeça também. Porque sempre passamos a mão na cabeça do outro, passamos a mão na cabeça de tudo! Deixa assim que daqui a pouco se resolve… coitado do Neymar. Sim, também tive pena dele, foi machucado! Mas e a equipe? E o psicológico deles? E o Brasil? E quem tem dores no hospital público, e quem nem leito tem em hospital, e quem de tanta dor de fome morreu no país? Hoje torce por ele.

Pão e circo (sem o pão, pois o circo aqui no Brasil já resolve). Não é culpa dos jogadores. Fácil seria depositar a culpa em alguém, como sempre fazemos (assim como fazemos com a esperança e jogamos no colo de outrem). O Brasil sofreu a goleada que sofreu e não tem problema a derrota. Não tem problema essa derrota. Se fosse a Alemanha, tudo bem? Não temos senso de perdedor e não percebemos que perdedores  somos desde o início, como país, porque somos a cultura da aceitação passando a mão na cabeça. Crianças choram incrédulas com a derrota em um jogo, de um time, e os pais choram junto, se abraçam e se unem nesse momento de dor.

E depois? Acabou a Copa. O Brasil volta a ser o que era e nunca deixou de ser. Essa união e dor conjunta, essa vibração, depois, não existem mais. Sou brasileiro, com muito orgulho… dentro do estádio de futebol. 

 

Marcela Galvão Bernardi Afonso

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